A Sabedoria das árvores

A Sabedoria das árvores I



Mitologia, tradição, historias, as interrelações com o meio, as mensagens químicas, as sensibilidades, as dificuldades, no tão diferente mundo das árvores.  Tudo parece coisa que pouco ligamos e que normalmente achamos que de nada servem. Coisas do fantástico e imaginário.

Mas na verdade tão fundamentais como o respirar do oxigénio que produzem, ou a madeira dos seus corpos, que nos dão um milhar de coisas no dia-a-dia.

A capacidade de sonhar e ver beleza, de respeitar e amar, pois se não nos conseguirem conquistar estas afectividades, todas as outras funções tão úteis só lhes servem mesmo é para ser cortadas.


Também vemos actualmente um novo desafio em termos de educação ambiental ou para a cidadania participativa em que se trata apenas disto mesmo.  


Cada dia acreditamos mais que não é com argumentos lógicos e técnicos que vamos salvar ou contribuir para mudar a ordem e caminho da sociedade, rumo a um futuro mais sutentável, ambiental e humanamente mais saudável e equilibrado. Debaixo das preocupações do dia-a-dia, das aspirações materiais ou das angustias com o futuro, parece-nos  conseguir ver nos olhos de muita gente um desejo ou necessidade secretos ou ignorados, de sonhar e sentir, de parar e contemplar.




Talvez seja lirismo nosso, mas vemos isso nas pausas das conversas do café do bairro, em tom de voz muito alto e com muita brejeirice pelo meio, Nas pessoas à espera do autocarro e a olhar o vazio. Nos que bebem o café rápidamente para ir fumar o cigarro lá fora e atirar depois e distraidamente a beata para o chão. Nas centenas ou milhares que ficam parados nas filas de transito.







Em todas essas pessoass, quando param da correria do trabalho, afazeres ou buscas incessantes,  parece ver-se esse desejo de beleza, de encontrar um sentido, algo mais. E sobre a beleza, não nos referimos àquela tipa/tipo gira/o que passou ali atrás, ou a nova peça de roupa, ou o carro de sonho na vitrina do stand, mas sim na poesia e bem estar interior, no sentir a vida com intensidade e bem estar, na capacidade de criar e transformar, em sentir poesia e beleza na vida. E está lá. E a necessidade também. E com força.







E quantas pessoas nesta cidade muito raramente de cá saem. e aos que o fazem não suspiram de alivio ao ver um pouco de verde, tranquilidade, silencio.


E tem mesmo de ser assim? Não será tempo de começar a exigir um estado de espírito e um meio mais agradável e saudável, mesmo o tendo ou querendo permanecer na  cidade?


Porque deverão ser as cidades sinónimos de extensões estéreis de betão, veículos metálicos, ruído e lixo?




Esse conceito está completamente ultrapassado.

E não serão os espaços arborizados que os habitantes da cidade procuram quando necessitam de paz, ou de reflectir, ou de respirar. Não haverá uma razão para isso?
Não sentimos todos o corpo e a mente a descontrair, ao observar uma árvore frondosa com as folhas a agitar com uma brisa suave (de tal modo que até parece cliché)?

Não será por nos transmitirem as próprias árvores um sentimento ancestral, bem gravado na nossa memória genética, de que estão ali à tanto tempo, como símbolo de perenidade e estabilidade de algumas coisas, algo necessário para nos transmitir alguma paz?

E temos de gostar e apreciar para nos preocuparmos e queremos.

Para proteger e interessar precisamos de gostar e preocupar.

Portanto parece inevitável que o ponto de partida seja a afectividade, a sensibilidade, em termos da matéria "prima" a trabalhar.




A necessidade de beleza faz parte de nós, humanos, desde sempre. Quando ainda vivíamos em cavernas, sujos e imundos, esfomeados e a tiritar de frio, a dormir no chão e com a morte, a dor e o sofrimento a espreitar em cada canto, nesses tempos, porque iríamos preocupar com pintar paredes e adornar os nossos corpos e utensilios do dia-a-dia?

Porque admirávamos a beleza dos outros seres vivos que connosco partilhavam o mundo?

Porque é a arte, a escrita, a musica, até a cultura da aparência pessoal, tão fundamental e prioritária, por vezes á propria saúde e qualidade primária de vida?


Na verdade temos a certeza que quanto mais dura e adversa é a realidade, mais necessitamos da beleza e da poesia. E vivemos tempos duros. Não é a sobrevivência ou conforto físico que estão em perigo(pelo menos imediato), mas a angustia, a incerteza, a desconfiança, o receio de perder (porque se tem).
E o nosso meio envolvente vai ficando mais feio.








Muitos até poderão dizer, rápida e convictamente; -Que parvoíce! Mas já ouvi esses mesmos a lamentar a carência e o vazio.
Então está lá! Essa sensação. E em simultâneo isto é a coisa mais fácil e mais difícil de se mudar e alcançar, por ser só dentro de nós que opera a mudança. Mas cremos que se consegue. Nós andamos a tentar. E vamos partilhando...



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