Curso de Introdução à Agricultura Regenerativa




Como obter e produzir alimentos conservando e regenerando a Natureza?

A obtenção de alimento é uma das actividades humanas que mais desgasta a Natureza e deixa a maior pegada ecológica. No entanto podemos fazer diferente. Através de um conjunto de escolhas e técnicas, essa mesma actividade pode transformar-se de parasitária a benéfica para a Natureza e para todos.


PROGRAMA
17, 18, 19 e 20 Março
Quinta dos Salgueiros - Idanha-a-Nova

I. HORTICULTURA ECOLÓGICA
· Desenho e planeamento da horta
· Solos
· Plantação e sementeiras
· Biodiversidade
· Sistemas de rega
· Tratamentos, sanidade e fertilização

II. FOOD FOREST
Criação de habitats semelhantes aos selvagens com grande incremento de biodiversidade e riqueza natural, que permitem a plantação, desenvolvimento e obtenção de múltiplos espécimes e produtos alimentares de variada ordem.
· Leitura e compreensão da Natureza
· Análise e diagnóstico de factores naturais
· Desenho de uma floresta de alimentos
· Escolha das espécies – compatibilidades e conciliações
· Reprodução de plantas em viveiros

III. ALIMENTOS SELVAGENS
Aproveitando a abundância e generosidade da Natureza.
· Reconhecimento de plantas, raízes, frutos e fungos selvagens
· Recolha e conservação
· Respeito pelo equilíbrio e continuidade
· Confeção de alimentos com estes bens

FORMADOR: Tito Lopes
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VALORES ÉTICOS (os valores abaixo referem-se aos 4 dias de formação):
Formação: 80

Opcionais:
Alimentação: 45 

Alojamento: Se pretender dormir no local (4 noites)
· Tenda: 8 
· Dormitório/camarata: 20
· Quarto duplo (Cama casal com wc partilhado): 80


Extras (Participação opcional e gratuita):
Prática de yoga/meditação diária (a confirmar). Princípios de comunicação não-violenta. Desenho de projecto.

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INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES:

tlf _ 966 237 047 (Tito)
email _ projecto.regenerar@gmail.com 


O Homem e a Terra



Num post anterior  https://projectoregenerar.blogspot.pt/2017/01/ahistoria-natural-do-centro-regenerar.html , foi feita uma descrição técnica e prática do que tem vindo a ser o processo de Regeneração desta Terra, através das intervenções que foram feitas.

No entanto existe toda uma outra experiência e processo paralelos, que é tão ou ainda mais importante partilhar, e que nesse sim, está a verdadeira intervenção e relação com a Terra e todos os seres vivos que aqui existem actualmente.

Quando estava a pensar o que escrever aqui, ocorreu-me a frase “tantas vezes nestas árvores e seres vivos procurei consolo, nos últimos quatro anos em que a vida deu voltas e reviravoltas”.
Mas também, tantas ou ainda mais vezes, fui eu consolar aqueles com quem compartilho a vida neste espaço. Mas não só os humanos… Foi principalmente os de folhas, os de asas, de pelo, ou penas, ou escamas. Os pequeninos e os grandes.

Muitos dias passei a plantar e trabalhar, mas outros tantos passei somente a contactar e conectar com todas aquelas plantas e animais. Até com as partículas de solo que ali existem e não são menos importantes, pelo que não lhes dedico menos atenção e energia.

Fui muitas vezes dar-lhes força, apoio e consolo (e continuo) quer quando a geada aperta demais, com um frio que queima, quer quando o sol forte os obriga a recolher (à sombra ou em si próprios), ou o vento sopre forte de mais. Ou a agua seja demais, ou de menos. E na verdade isto é altamente agradável e simples, é só estar ali a sentir…. E tudo á volta sente. Falamos assim, por ali! Em sentimentos…

O vento, a chuva, o sol, o pó, tudo faz parte disto! E alegra e anima, quando gotas de suor pingam o chão (acontece mesmo), o saber que as minhas moléculas, se misturam com aquela terra, se transformam nela, em que passamos a ser um todo. Um. O todo.

É uma experiência indescritível! São cada vez mais momentos de deslumbramento total com as 3 vidas. A nossa Vida, Todas as outras Vidas, e a Vida do Todo. Esta assombrosa teia de sei lá o quê!...
É aqui que me surge a já conhecida ideia, de que, não é no fim que está o sucesso, mas no processo e caminho em si…

E todas as centenas de árvores que já começam a marcar a sua presença na paisagem. Todas as outras centenas que estão ainda discretas, mas sei que estão lá e bem. A sementes que sei lá estarem, á espera da primavera. Todos os animais selvagens que aumentam a cada ano, em numero e em formas diferentes (espécies). Isto mexe de Vida e dinâmicas.

Sentir aquele solo cada vez mais vivo, mais forte, mais fértil, que vai potenciar o crescimento de tudo, que vai fortalecer ainda mais e fazer crescer ainda mais e... Não pára! É assim que a Natureza se manifesta. É assim que a Vida se manifesta, é assim que nós nos manifestamos.

Ninguém deveria passar pela vida sem sentir um amor assim à Terra, porque a terra ama-nos assim…. É justo!

É isto e muito mais. E não encaro isto como prosa ou poesia! É mesmo o que é, descrito de forma objectiva e simples.


Experimentem! Vale mesmo a pena!

A história natural do Centro Regenerar




De uma forma resumida iremos aqui expor o processo de Regeneração Natural do espaço em que nos situamos, sendo que na continuação de agora em diante iremos acompanhando e divulgando os resultados e evolução das intervenções que iremos descrever em seguida

Este espaço foi adquirido 15 anos atrás e anteriormente a isso a utilização tinha sido agrícola e/ou pecuária. Após a compra, na parte natural de 4 hectares, foi iniciada uma gestão na perspectiva única da biodiversidade e habitas selvagens. Por isso foi deixado em pousio, para regeneração dos solos, permitindo as constantes acumulações de matéria orgânica e consequente aumento da biologia e dinâmicas orgânicas nos solos

A vegetação tendencial da zona, sendo terrenos de aluvião nas margens do rio Ponsul, seria constituída maioritariamente por salgueiros, freixos, choupos, ulmeiros e outras espécies ribeirinhas.

Para alem destas espécies existiam varias árvores de frutos (marmeleiros, figueiras, laranjeiras, pereiras. Romãs e dióspiros) lódãos (celtis australis) e alguns choupos, na margem do rio Ponsul

Na altura foi deixado livre espaço à regeneração e proliferação natural destas espécies, com algum incentivo humano, e foram paralelamente plantados, nas zonas mais altas e secas, muitos sobreiros, pinheiros bravos, azinheiras, zambujeiros e alguns ciprestes.

Em 2011 aconteceu um fogo violento que queimou toda a vegetação existente. Muitas das arvores foram danificadas e secaram a copa, tendo iniciado regeneração de touça. No solo, toda a biomassa ainda não decomposta foi reduzida a cinzas

Desde então tem sido aplicada a abordagem e design em Permacultura, conciliado com a perspectiva da gestão de habitats selvagens, o que de alguma forma se pode dizer que resulta numa forma particular de floresta de alimentos

Desde 2012 foram plantadas no local cerca de 3000 arvores, das quais se prevê terem sobrevivido 80 a 90 por cento

Tem havido muita regeneração espontânea de freixo e salgueiro e os diospireiros, abrunheiros e choupos ardidos, reagiram em intensa rebentação de raiz, estando actualmente a formar pequenos bosquetes

As espécies nativas plantadas foram
  • ·         Azinheira (Quercus rotundifólia)
  • ·         Sobreiro (Quercus suber)
  • ·         Carvalho cerquinho (Quercus faginea)
  • ·         Carvalho negral (Quercus pyrenaica)
  • ·         Medronheiro (Arbutus unedo)
  • ·         Cornalheira (Pistácia therebinthus)
  • ·         Zimbro (Juniperus oxycedrus)
  • ·         Pinheiro manso (Pinus pinea)
  • ·         Zambujeiro (Olea europaea silvestres)
  • ·         Pilriteiro (Crataegus monogyma)
  • ·         Folhado (ViburnumTinus)
  • ·         Aroeira (Pistacia lentiscus)
  • ·         Ulmeiro (ulmus minor)
  • ·         Sabugueiros (Sambucus nigra)
  • ·         Loureiros (Laurus nobilis)
  • ·         Amieiro (Alnus glutinosa)
  • ·         Esteva (Cistus ladanafer)
  • ·         Piorno (citysus scoparius)
  • ·         Roselha (cistus crispus)
  • ·         Sanguinho (Rhamnus alaternos)
  • ·         (Phylirea angustifolia)

As Naturalizadas
  • ·         Lodão (Cletis australis)
  • ·         Pinheiro de halepo (Pinus halepensis)
  • ·         Cipreste do buçaco (Cupressus lusitânica)
  • ·         Cipreste dos cemitérios (Cupressus sempervirens)

·          

De há dois anos para cá, e na recente abordagem da floresta de alimentos, começaram a ser plantadas arvores de frutos, que se tentou serem maioritariamente de variedades tradicionais, obtidas em raids a hortas abandonadas, ofertas e trocas com amigos, relação com associação colher para semear e alguns fruticultores que ainda têm estas variedades.

No entanto a grande maioria resulta de reprodução em viveiro, com recurso a sementes aproveitadas da fruta consumida.

Este processo, geneticamente torna-se impossível de prever quais serão as características das árvores e respectivos frutos, pelo que dentro de mais um ou dois anos, quando iniciar a produção, saberemos o que resulta

Quanto a estas árvores, que são de frutas em versão “bravo”, poder-se-á optar por posteriores enxertias. No entanto e actualmente, consideramos mais interessante aproveitar a diversidade genética e ver o que resulta, mesmo que não se tratem de variedades ou árvores super-produtivas como é a tendência e preferência actual
Neste contexto foram plantadas
  • ·         Pereiras
  • ·         Macieiras
  • ·         Nespereiras
  • ·         Pessegueiros
  • ·         Cerejeiras
  • ·         Romanzeiras
  • ·         Ameixeiras
  • ·         Nogueiras
  • ·         Ginjeiras
  • ·         Aveleiras
  • ·         Castanheiros
  • ·         Amendoeiras
  • ·         Figueiras
  • ·         Abacateiros

De arbustivas e trepadeiras, foram plantados
  • ·         Alecrins
  • ·         Alfazemas
  • ·         Physalis
  • ·         Goji
  • ·         Groselheiras
  • ·         Framboesas
  • ·         Videiras
  • ·         Madressilvas
  • ·         Eleagnus ebingueli

Anterior a todas as plantações foi implantado na maioria do terreno um sistema de distribuição de agua em keyline, beneficiando da agua do regadio que deste modo, pode chegar a quase todo o terreno

Foram construídos 5 lagos de variadas dimensões

Desde o referido incêndio, tanto a erva, como silvados, e uma pioneira exótica (dietrichia viscosa), têm proliferado e crescido cada ano mais vigorosamente. Desde há um ano atrás, a aquisição de uma moto roçadora com lamina de destroçar, permitiu fazer cortes nesta vegetação, o que tem possibilitado uma mais rápida e maior deposição de biomassa. Sendo que esse efeito já se nota claramente, pois para alem da fertilidade estar muito potenciada, também a sucessão natural da vegetação começa a mudar, para um terceiro estagio de regeneração. De prado para matos e agora a entrar em processo de solo florestal, com a proliferação abundante de fungos que se alimentam da muita matéria orgânica e carbono existentes.