Actualmente em Lisboa tem acontecido um despertar e espírito de retorno á terra por parte de um número crescente da população.
Sinal disso têm sido as iniciativas crescentes para a criação de hortas urbanas e inclusive, com o apoio das entidades oficiais, o que vem demonstrar a sua importância crescente no tecido social e para a sustentabilidade, na qualidade de vida nos grandes centros urbanos actuais, em oposição a betonização maciça indiscriminada, e a proliferação da especulação imobiliária.
Actualmente, cada vez mais celebramos a alegria e a importância do cultivo de alimentos na cidade resultando num imenso prazer para nós, passarmos o Verão e o Outono a tratar de pequenos talhões de terra na cidade ou nas floreiras das marquises e varandas com o fim de comer tomate, verduras, alho e muitas outras coisas, de forma mais saudável e fruto da nossa dedicação.
No entanto e não querendo ser arauto de más noticias, acho importante chamar a atenção para um problema que não pode ser totalmente esquecido, pois estamos inseridos num contexto urbano em que os solos estão vulneráveis a, para além das partículas em suspensão que são gradualmente depositadas pela chuva, temos também as lavagens das estradas, ruas e fachadas de prédios, sendo que nas ruas existe tudo o que as pessoas lá deitam ou fazem, os resíduos de óleos e combustíveis dos automóveis, detergentes e sabe-se lá mais o quê.
Nos solos de Lisboa e dado que já aqui está uma cidade com ocupação humana há umas largas centenas de anos, existe todo um historial de utilização da terra, que na maior parte dos casos desconhecemos e nem conseguimos já investigar, dado a distância no tempo.
Mas a Natureza tem os seus próprios processos de depuração e descontaminação, que embora lentos e demorados se revelam eficazes, por isso quando estamos em presença de um quintal interior do qual sabemos que há uns 20 anos nada se faz ali, poderemos ter alguma tranquilidade quanto aos níveis de contaminação embora não considere descartável a hipóteses de uma simples análise, nem que seja para descargo de consciência.
Quando estamos a falar de zonas periféricas e de expansão mais recente da cidade e perto de estradas ou antigas unidades industriais (Como a zona de Chelas, Braço de prata e outras que se andam a pensar para hortas urbanas), deve-se ser particulramente cuidadosos com o facto de plantar imediatamente legumes antes de saber em que estado de sanidade tão aqueles solos. estas zonas escundárias ou de mais recente expansão urbana, por razões obvias de agressões mais recentes são altamente prováveis de estarem intensamente contaminadas.
Noutros países em que estão a acontecer há mais tempo movimentos de agricultura urbana semelhantes, já se fizeram análises e estudos e com as conclusões resumidas que devido às práticas e formas de uso ao longo dos anos, a química do solo está plena de chumbo e zinco das pinturas das casas e das emissões dos automóveis, e que muitos dos solos testados estão comprovadamente contaminados. Embora isso seja uma má e desmotivante notícia, representa uma etapa emocionante para melhor compreensão do nosso meio ambiente e para trabalhar em direcção a sistemas alimentares sustentáveis na nossa comunidade.
Com o resultado do estudo e análise para a presença de metais pesados em mãos, temos a possibilidade de fazer parte de um esforço importante em todo o mundo, para identificar e desenvolver práticas de agricultura e jardinagem seguras e saudáveis para ambientes urbanos.
Recomendações
Se acha que o solo do seu terreno possa estar contaminado, não desespere. Há várias práticas que melhoram a saúde do solo e as formas de mitigar o risco da contaminação da saúde por metais pesados.
Entretanto, aqui estão algumas recomendações: Se puder pagar (ou pedir a entidades oficiais), faça amostragens e análise dos solos que pensa utilizar, para a detecção de metais pesados e compare os resultados com as directrizes OMS.
O chumbo, cobre e arsénio são os metais mais importantes para testar. Se não tiver a certeza, ou se sabe que seu local está contaminado, pode construir canteiros e trazer solo e terra limpa de outro lugar.
Escolha um material seguro para construir as camas de cultura (como telhas, troncos, pedra ou madeira não tratada) e alinhá-los como uma barreira que reduz a migração de metais pesados do solo existente para o seu jardim. Em ambientes altamente contaminados, substitua 3-5 cm das camadas superiores do solo que serão levantadas em camas, em cada ano.
Lembre-se que "comer terra" é de longe a forma mais comum do que os metais pesados entrarem no corpo humano. Lavar as mãos depois de trabalhar a terra e lavagem dos hortícolas com cuidado. Evite mondas em dias muito secos, ou use o método de cortar e tombar, sendo cortadas as ervas um pouco acima do solo e deixado ficar o verde como cobertura da terra.
A adição de matéria orgânica para o solo reduz a quantidade de contaminação que é absorvido pelas plantas, assim como a adição de cinzas de madeira, cal, ou cascas de ovos para neutralizar o PH do solo.
Uma das práticas mais importantes em situações de contaminação e que requer alguma paciência a partir do momento que decida tirar os frutos da terra, é durante o primeiro ano (uma primavera e verão) fazer em todo o terreno uma cultura intensa de milho sorgo.
Esta planta de crescimento intensivo e rápido, sabe-se ter uma capacidade muito grande de absorver os metais pesados existentes no solo, pelo que é muitas vezes utilizada para limpeza dos solos quer de metais pesados, quer de resíduos de pesticidas e outros contaminantes.
Portanto, não há problemas sem solução, mas tenha cuidado com os solos da cidade que inevitavelmente tem sofrido muitas agressões.
Bom trabalho e boas culturas
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