Gestão de sebes e de orlas de herbáceas para a fauna



Gestão de sebes e de orlas de herbáceas para a fauna

Susana Dias
Nos meios agrícolas e agro-florestais, a gestão de sebes e de orlas de hérbaceas, conjuntamente com a implementação de culturas para a fauna, constitui umas das principais medidas de ordenamento favoráveis ao incremento da diversidade biológica.

A instalação de culturas especificamente destinadas à fauna, que têm sido extensivamente apresentadas no portal Naturlink, é apenas umas das abordagens possíveis para melhorar o habitat em áreas protegidas ou zonas de caça. Apresentam-se seguidamente algumas opções de gestão cuja execução não interfere grandemente na produção agrícola mas que são igualmente benéficas para os animais. Isto porque visam melhorar a qualidade dos habitat, maximizando as estruturas marginais como sebes, orlas, e cabeceiras de campos cultivados.



Sebes
As fiadas de árvores ou arbustos em limites de propriedades ou quebra-ventos, constituem habitat de nidificação, alimentação e abrigo para inúmeras espécies com interesse de conservação e espécies cinegéticas. No entanto, estas estruturas também podem ter um efeito negativo em algumas espécies características de áreas abertas, como os abibes, lavercas, codornizes e abetardas. Assim, enquanto que para umas espécies as sebes podem actuar como corredores mitigando o isolamento populacional em paisagens fragmentadas, para outras podem actuar como barreiras, dividindo potencialmente populações contínuas à escala regional. É claro que este efeito de barreira só existirá se a altura das plantas a isso se prestar. Havendo na região aves estepárias que se pretenda não perturbar, poder-se-á optar por fazer estas sebes com vegetação arbustiva de pequeno porte.


A gestão das sebes pode ser efectuada a nível dos elementos arbustivos e arbóreos, a nível da vegetação basal onde a sebe se ergueu, e na faixa de terreno imediatamente adjacente. A gestão destas componentes afecta a sua utilização pela fauna bravia. As sebes que não são geridas durante muito tempo crescem em altura tendendo a tornar-se ralas e esparsas, com clareiras, sendo consideradas com menos interesse para a biodiversidade. No entanto, estas clareiras podem servir de abrigo ou cama para lebres, ou mesmo de paragem preferencial para pequenos mamíferos. Porém, algumas plantas que rebentem bem de toiça, poderão permanecer muitos anos no terreno e terem tendência a voltar a revestir-se por baixo sempre que sejam podadas. Pode ser a caso de zambujeiros, pilriteiros e catapereiros, entre outras. Alguns ciprestes com tendência para produzir uma forte rebentação lateral junto à base proporcionam um excelente coberto para perdizes e comportam-se muito bem mesmo quando podados na parte apical.

Orlas de herbáceas
As orlas de terrenos com vegetação herbácea são um dos habitats não agricultados mais comuns, tendo vindo o seu valor potencial para a vida selvagem a ser cada vez mais reconhecido. Para além do seu significado para a biodiversidade, as faixas de herbáceas têm funções importantes na sua interacção com os sistemas agrícolas, funcionando como reservatórios de insectos polinizadores e de aranhas e insectos controladores de pragas. Estes, por sua vez, podem ser alimento de numerosas aves.
O valor das orlas de herbáceas depende fortemente do tipo e extensão da gestão. A aplicação de fertilizantes e pesticidas nas culturas têm efeitos adversos na orla. Por outro lado, semear mesmo até ao limite da parcela reduz a espessura da faixa marginal, tornando-a mais vulnerável à contaminação por agroquímicos a partir dos terrenos vizinhos.

A gestão destas áreas pode ser orientada para proporcionar locais de nidicação às aves e de invernada de insectos benéficos o que, por sua vez, permite aumentar a disponibilidade alimentar em insectos no Verão. Para isso, as faixas de herbáceas devem ser geridas de modo a existir sempre uma camada de manta morta dos anos anteriores, que possa ser usada na construção de ninhos. Os herbicidas não selectivos devem ser evitados nestas áreas, bem como as escorrências químicas das culturas agrícolas adjacentes. O gado não deve entrar nestas orlas.

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