Princípios de acção em Permacultura (Por Bill Mollinson)



Funções Múltiplas
Esta ideia consiste em assegurar que o que está incluído em um sistema tenha o maior número de funções possíveis Isto simplesmente aumenta a eficiência. Por exemplo, construindo um depósito em um jardim para armazenar ferramentas, pode-se usar o seu tecto para captação de água que irá para um tanque de armazenamento ou poderia servir de sustentação para plantas trepadeiras. Poderia servir como barreira de separação para diferentes partes do jardim e poderia esconder uma vista desagradável, entre outras funções.
Plantando-se árvores de sombras grandes, poderíamos escolher árvores como o Jacarandá ou o Angelim, essências florestais muito úteis mais leguminosas como o Ingá, árvore que tem vagens comestíveis.
Diversidade
A estabilidade dinâmica dos ecossistemas é a baseada na diversidade de espécies e nas múltiplas interacções existentes. Nossos planeamentos devem tratar de incorporar e construir a mais ampla variedade e diversidade possíveis. Grandes áreas de monocultivo são facilmente invadidas por pragas e ervas indesejáveis. Em um cultivo ou jardim com o maior número possível de espécies, nem as pragas, nem as ervas indesejáveis têm a oportunidade de criar um estado desiquilibrado o suficiente para causar danos.
Use variedades de plantas e espécies para criar uma rica rede de interacções e uma ecléctica mistura de associações entre todos os elementos do desenho.
Reciclagem de Energia
A energia que provêm do SOL e seu fluxo através dos ecossistemas é a base da vida em nosso PLANETA, segundo os princípios da Ecologia. Os organismos que mantém sua porção desta energia por maior tempo possível e que usam essa energia de forma mais eficiente são os que provavelmente irão sobreviver e prosperar.
Em termos de desenho, isto quer dizer que necessitamos criar ciclos de energia eficientes, densos e efectivos dentro de cada parte do sistema e em todas as partes possíveis.
Um bom exemplo de reciclagem de energia é a COMPOSTAGEM. A energia presente dentro dos desperdícios alimentícios, pastos podados e outros restos orgânicos, com a ajuda de bactérias e fungos podem ser outra vez convertidos em nutrientes que as plantas poderão reutilizar para produzir novos alimentos.
Padrões Naturais
Com um pouco de atenção, a observação de nossos sistemas naturais revelará padrões e planos complexos. Você não encontrará linhas rectas ou quadros perfeitos. Use os padrões da natureza como inspiração em seus trabalhos de desenho. Quando se fazem planos para uma propriedade, estamos impondo padrões sobre a paisagem. Trate de assegurar-se que os padrões que você selecciona sejam tão belos e funcionais como os que a natureza usa. Muitas ideias da Permacultura tem sido inspiradas em tais observações.
Localização Relativa
Cada árvore, cada planta, cada estrutura tenderá para uma área onde será especialmente benéfica. Plantar uma árvore de abacate em um lugar que está húmido e molhado provavelmente matará a árvore (as raízes apodrecem). Igualmente, não tem sentido plantar, como sistema de quebra-vento, uma planta quebradiça como, por exemplo, Acacia decurrens.
Este princípio requer que pensemos nas necessidades de cada elemento (botânica, horticultura, no caso das plantas) também que pensemos nas interacções que vão se suceder por causa da colocação deles. Por exemplo: é uma boa ideia plantar próximo de um tanque ou represa as árvores com alta necessidade de água (como bambus, nogueiras, entre outras).
Recursos Biológicos
A natureza é muito eficiente e tem desenvolvido métodos para manejar quase todas as funções. Sempre que seja possível, devemos usar sistemas naturais para fazer o trabalho. Por exemplo, podemos comprar materiais químicos feitos por seres humanos para combater problemas de pragas, ou podemos planear nosso sistema com patos e/ou galinhas permitindo-lhes que andem na horta (controlando sua permanência) e permitindo-lhes que comam os insectos e pragas em vez de fumigar com pesticidas. Mesmo porque algumas pragas podem desenvolver imunidade rapidamente contra os mais modernos e caros pesticidas, mas nenhuma praga pode desenvolver imunidade contra o ser comida por uma galinha.
Podemos escavar a terra para fazer um cultivo de hortaliça em um jardim, ou podemos alimentar a terra e assegurar que tenhamos uma grande população de minhocas as quais farão o trabalho de arejar a terra e o fazem melhor que uma enxada ou pá (é mais fácil para os músculos das costas, e para a coluna).
Planeando com os Declives
Devemos tirar vantagem da situação, como usar pendentes ou diferenças de altura, para fazer fluir a água e outros fluídos como ar frio para baixo. Colocando um grupo de tanques de armazenagem sobre o tecto da casa, poderemos regar a horta sem ter que comprar uma bomba. Sabendo que a água quente sobe, podemos construir um sistema de água quente que usa esta termodifusão, em vez de usar outra bomba.
Uso das Bordas
Em Ecologia se constata que as bordas(limites) entre diferentes ecossistemas sempre são mais produtivas do que cada ecossistema o é individualmente, posto que a área de borda pode manter espécies de dois ou mais ecossistemas como também espécies únicas em uma área de borda que represente a mescla dos ecossistemas vizinhos. Uma linha sinuosa (para quebra-vento, por exemplo) é mais larga que uma linha recta ainda que conectem os mesmos pontos – têm mais borda e esta linha pode ser plantada com mais espécies úteis – e em si é mais efectiva como quebra-vento. Existem vários estilos de bordas. Deve-se usá-las o máximo possível. O desenho de tanque em formato de roda cria uma boa borda água/jardim.
Zonas
O conceito de zonas trata do manejo(economia) de energia. Coloque mais próximo do centro de actividades as coisas que requerem muita atenção(energia) especialmente na forma de actividade humana. No geral isto quer dizer, próximo da residência.
Um jardim de cultivo de verduras e ervas como acelga para cortar frequentemente (que se visita na média de duas vezes ao dia) deve estar mais perto possível da porta ou área atrás da casa ou próximo da cozinha. Uma área de árvores cultivadas para uso da lenha pode estar localizada mais longe da casa.
Em muitos livros de permacultura, este conceito de Zonas se divide com designações de:Zona 1 – O jardim de cultivo e hortaliças, localizada perto da casa. Zona 2 – Horto, galinheiro, medianamente distante da casa. Zona 5 – Área de bosques silvestres ou de cultivo, bosque natural, área de caça e outros recursos, mais distanciada da casa.
O ponto importante aqui é que há vários níveis de intensidade no uso de energia no manejo do ambiente.
Múltiplos Elementos
Elementos múltiplos são como uma espécies de apólice de seguro. Se trata de pensar sobre as funções e serviços que se quer e encontrar todas as maneiras possíveis para realizá-las. Por exemplo, a água é sumamente importante para qualquer atividade humana, assim é que sua captação deve ser de grande prioridade.
A função de captação de água pode realizar-se com sistemas estabelecidos no tecto da casa (tanques de captação) que através de canos de descida chegam a seu destino ou por um sistema de Swales (escavações sobre as curvas de nível topográfico). Para extrair água da terra ela é bombeada de poços e/ou de rios. O tratamento de águas negras também é uma forma de colher(economizar) água.
Uma represa pode ser multifuncional porque pode conter peixes, pode conter plantas de ambiente aquático, pode ser usada como sitio de relaxamento e diversão, e também pode servir de protecção contra incêndios (por exemplo, se a represa é colocada no sector de incêndios sobre a principal direcção de ventos intensos e secos).
A represa pode ter um entre outros tantos elementos. Assim pode ser usada também na protecção contra incêndios – outros elementos para controlar incêndios podem ser montículos de terra, uma área de pastagem totalmente usada, uma estrada ampla, ou um plantio denso de vegetação resistente ao fogo, entre outros.
Sectores
Este trata do conceito diz respeito à energia que flui através de um sistema. Este fluxo ocorre geralmente a partir de direcções específicas. São estas direcções que definem os sectores. A cobertura dos construções devem levar em consideração estes dados. Por exemplo, em quase todas as áreas, a chuva normalmente vem com o vento de uma dada direcção, deste modo as instalações voltadas para esta direcção recebem chuva com mais frequência. Nos Andes (Peru e Chile), muita chuva cai até o mar desde as montanhas, mesmo que do outro lado a terra recebe muito menos chuva.
Uma estrada de muita actividade ao lado de uma propriedade pode criar um sector caracterizado pelo tráfego, ruído e contaminação por causa dos carros. Montículos de terra, bordas de terra e plantio densos colocados nos limites desta direcção ajudam a reduzir o impacto negativo.
Sucessão Natural
Os Sistemas Naturais constantemente estão em evolução e desenvolvimento até à maturação. Em nossos desenhos necessitamos planear para o futuro para permitir que esta expansão natural ocorra. Isto pode se levar a cabo simplesmente na maneira de plantar uma árvore frutífera para permitir espaço onde possa se desenvolver e crescer até ser uma árvore grande. Uma mangueira, por exemplo, pode tornar-se uma árvore grande, porém é muito pequena quando inicialmente plantada. No princípio a árvore se encontra muito sozinha, rodeada por muito espaço, porem através dos anos, ela utilizará esse mesmo espaço ao madurar como árvore frondosa e frutífera.
A tendência dos sistemas em evoluir através da sequência ervas, pioneiras e clímax pode ser explorada de outra maneira. Primeiro, podemos incluir plantas úteis em cada nível. Em vez de permitir que uma área seja coberta por ervas invasoras, geralmente de folhas grandes, podemos deliberadamente plantar ervas úteis ou fixadoras de nitrogénio como plantas de cobertura. Pioneiras podem ser plantas como a banana, o mamão, entre outras. Finalmente, o estrato clímax pode ser constituído por árvores de grande porte e frutíferas, ou óptimas para o aproveitamento da madeira, ou uma leguminosas também de grande porte como o jacarandá.
Também podemos ajudar o processo no sistema. Isto quer dizer que se plantam espécimes úteis para cada nível de sucessão, porem se plantam juntas, ao mesmo tempo. Plantando-as ao mesmo tempo, aceleramos o processo, reduzindo assim o tempo. Deste modo podemos plantar ao mesmo tempo, as plantas de cobertura (ervas), mamão (pioneiras) e manga (clímax). As plantas de cobertura se estabelecem rapidamente em seguida os mamões começam sua produção e, um pouco mais tarde termos a sombra das árvores de manga, entre outras, plenamente desenvolvidas.
Os sistemas naturais também têm diferentes níveis dentro do Clímax. Umas poucas leguminosas de vida curta, muitas árvores produtivas de estratos médios e altos, plantas de baixa altura que podem tolerar sombra, umas plantas de cobertura que apresentem ramadas e produzem sombra. Ao combinar plantas, estamos tratando de criar grupos – combinações de vegetais que funcionam juntos. Estas associações muitas vezes incluem uma árvore ou arbusto grande – uma leguminosa trepadeira (feijão etc.) e uma camada de cobertura sobre a terra (ervas ou verduras de poucos cuidados como pepino e cebolinha).

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