As Florestas de alimentos




Um dos métodos que mais fascina no mundo da Permacultura são as florestas comestíveis ou agroflorestas deixo aqui uma entrevista com o Ernst Gotsh uma das pessoas mais entendidas do Brasil neste tema da transição das florestas.








P: Quais são as bases de sua experiência em agrofloresta?

Ernst: A participação de cada espécie na natureza sempre traz um superavit energético. A prova é a recuperação natural dos locais esgotados, que se inicia pelas espécies mais rústicas, mas sempre levando, depois de um tempo, ao aumento da biodiversidade. É a substituição da concorrência e competição fria, que causa escassez, conflito e falência por um sistema inteligente, baseado nos princípios do amor e cooperação entre as espécies. Com esta constatação, fica óbvio que é mais lucrativo enriquecer os sistemas do que explorá-los. Exploração é quase sempre insuportável.

P: Tecnicamente a agrofloresta é viável?

Ernst: Não só viável, como de menor custo e maior lucro. As técnicas tradicionais de agricultura, como o fogo, a capina e o arado são substituídas por uma convivência harmoniosa e criativa com as espécies, que cria um sinergismo lucrativo. O que regra as relações é que cada espécie aumenta a quantidade e qualidade de vida se cada uma cumprir a função prevista para ela. O homem não é inteligente, ele faz parte de um sistema inteligente. Se trabalharmos com o potencial dos sistemas, a presença humana deixa de ser inoportuna. Trata-se simplesmente de criar plantações com dinâmica parecida com os ecossistemas locais.

P: Na prática, como funciona o sistema de agrofloresta?

Ernst: Um principio é a diversidade , outro é o uso dinâmico da sucessão natural. No mesmo dia e local em que plantássemos o arroz, plantaríamos o milho, bananas, mandioca, guandu e mamão, todos em densidade como se fossem para monocultivo e árvores de todo tipo, em alta densidade, dez sementes por metro quadrado. A agrofloresta é um ser vivo, que tem relações de criadores e criados, os que tem ciclo de vida curto são criadores, como milho, feijão e mandioca. Os criados são os de ciclo longo, as árvores, por exemplo. Usamos uma estratégia revertida, principalmente em terrenos que não estão preparados. Começamos com as espécies menos exigentes, ao contrário do processo habitual, que parte da queima e uso da terra até seu esgotamento. A queimada leva a uma escala descendente de aproveitamento do solo, com plantio de espécies exigentes nos primeiros anos, um esgotamento rápido do solo e o plantio de espécies cada vez menos exigentes. Sem a queima, o processo é revertido, enriquece-se o solo com as espécies menos exigentes e inicia-se a capitalização para o plantio posterior das espécies mais exigentes.

P: A agrofloresta pode dar resposta a uma agricultura voltada para o consumo de massas?

Ernst: Sim. Uma grande empresa multinacional, há três anos, concluiu que agricultura não deve ser negócio para grandes empresas, mas para pequenos produtores, agricultura familiar. Passaram a investir em seringais consorciados em agroflorestas, com cacau, açaí e produtos de subsistência. Aliado às espécies silvestres, o homem teria muito mais oferta protéica, inclusive, do que criando bois. Sem o uso de fogo, que é uma ironia, porque resulta na expulsão da espécie humana. As pesquisas indicam que a implantação de agroflorestas não diminui a produtividade relativa de cada espécie plantada. Uma experiência na Bolívia resultou em quatro a cinco por cento menos de arroz do que se fosse em monocultivo, mas três meses depois, colheu-se o mamão, mais três meses, sem nenhum trabalho além de colher, obteve-se uma segunda colheita pequena de arroz, com um ano e dois meses veio a banana, depois a mandioca, com dois anos e pouco os primeiros cacaueiros, e com quatro anos os primeiros resultados florestais, em frutíferas e madeiras.




P: Uma mudança mais geral nos paradigmas da agricultura, na direção destes princípios agroflorestais. Você acha possível? Em quanto tempo?




Ernst: As mudanças de paradigmas são processos lentos e são favorecidos por pressões da própria natureza. No Brasil, com seus ecossistemas ricos, os riscos de colapso podem demorar, mas existem sinais claros de que chegarão. É mais gratificante ver numa agrofloresta próspera o superávit e a função humana como dispersora e não devastadora. Existem experiências centenárias, como a cafeicultura sombreada na América Central, consorciada a cítricos e diversas árvores, derrubados como obsoletos e substituídos por sistemas de monocultura. Agora teremos que fazer o caminho de volta para a natureza. De volta às matas e a um tipo de consciência que devolverá ao homem sua condição de espécie amorosa e cooperativa.
















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